Marina Ferreira da Silva
Aluna de crítica teatral pela UFG
A peça é inspirada em um texto do escritor Miguel Jorge, e muito bem adaptada ao teatro pela Cia. Novo Ato. Esteve em cartaz nos dias 23 e 24 de setembro de 2011, no teatro do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro.
A apresentação já se inicia de maneira inusitada: o público ainda na fila do lado de fora do teatro se depara com uma fumaça que vai lentamente saindo de uma das portas do espaço, enquanto um homem vem do andar debaixo tocando gaita. é de se surpreender, o que faz os espectadores logo terem boas expectativas para o que se seguirá.
O espetáculo é extremamente interessante, uma vez que se difere de outras peças comuns no que concerne à maneira de narrar. Não se trata de uma história linear, antes, o público vai tendo acesso ao enredo por meio de sensações, tais quais medo, alegria, desespero. São mostrados os instintos humanos misturados à irrealidade. É tudo casado à música, pois em canto um canto do palco temos o diretor da peça que, com seu teclado, fica encarregado da sonoplastia da peça, tratando cada pedaço da história com uma melodia e um tom apropriados.
A proposta do grupo é discutir o humano, seja homem ou mulher, com todos os seus conflitos pessoais, suas dualidades, suas ambivalências, seus desejos e instintos sufocados pela pressão social. E o grupo faz essa discussão com muita competência, por vezes chocando os espectadores, que se veem diante de cenas de violência física, sexual, psicologia, tao bem representadas que conseguem nos passar sensações de angustia e por vezes de alegria.
O Espetáculo ainda trabalha a questão da violência presente cada dia com mais forca nos jornais, violência já enraizada na sociedade, noticias que sangram diante de nossos olhos todos os dias.
Os atores sabem trabalhar de forma espetacular com o corpo, se desdobrando a cada cena, e se misturando à musica de fundo, fazendo do resultado final uma verdadeira opera cênica. Alem disso, o cenário se enquadra muito bem na proposta da peca, simulando um tabuleiro de xadrez, e tambem um espelho e msmos lanternas. O jogo de luz é sensacional e a música, as luzes e a dança formam um ambiente muito bem trabalhado.
A peça nos mostra situações reais entre os personagens Horácio e Cristal, marido e mulher, e situações psicológicas desses personagens com os seus duplos, que são aqueles que representam os sentimentos reprimidos do ser humano, evidenciando essa ambivalência entre o “eu social” e o “eu libidinoso/inconsciente”, em cenas que mesmo agridem a plateia, ao lembra-la de sua realidade, como uma cena de um estupro.
Outro aspecto interessante é o “metateatro” apresentado, visto que os personagens no meio da peça discutem maneiras de fazer essa peça- o que dá um tom de comedia muito agradável ao público.
Enfim, é um verdadeiro espetáculo do universal humano, que nos mostra como nos despir de nossa civilização pode ser perigoso, já que debaixo de nossa capa social estão os instintos que a sociedade tanto desaprova. Mas Ambivalência (S) está mais do que aprovada!
Setembro de 2011